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Entrevista

Agricultor familiar deve encarar produção como negócio, diz pesquisador
28/11/2008 00:09:13


sao raimundo nonato

Por José Marques de Souza Filho
Assessor de Comunicação EMATER
8851 2986


O médico veterinário José Maurício Marciel Cavalcante, formado pela UECE - Universidade Estadual do Ceará atua no Laboratório de Tecnologia do Sêmen Caprino-Ovino, da mesma universidade. Além das atividades de pesquisa, principalmente na parte de reprodução de caprinos e ovinos, ele também desenvolve atividade de extensão, acompanhamento de produção em propriedades do Nordeste. Ele foi um dos ministrantes dos cursos de capacitação em ovinocaprinocultura, oferecidos no âmbito do Projeto Cabra do Piauí, pelo EMATER - Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí para 100 técnicos das regiões de Oeiras, São João do Piauí e São Raimundo Nonato. Nesta entrevista, ele avalia a situação da caprinovinocultura no Nordeste e mostra os avanços das novas tecnologias que estão sendo produzidas, utilizando elementos regionais como a água de coco na conservação de sêmen. CONFIRA!!!
 
ASCOM/EMATER- Qual o diagnóstico que o senhor faz da caprinovinocultura no seu estado, Ceará e, de uma maneira geral, do Piauí e no Nordeste como um todo?

JOSÉ MAURÍCIO - No nosso caso, no Ceará, existe uma diversidade muito grande de situações. É uma cadeia que não se pode nem dizer que tá...(pausa) eu até  brinco, né (risos). A gente não pode dizer que a cadeia da ovinocaprinocultura está desorganizada, porque ela não existe, infelizmente. A gente tem uma limitação muito grande com relação à assistência técnica, lá. São muito poucos técnicos. Por exemplo, no caso da Emater, onde lá são poucos os técnicos. São poucas as pessoas que podem oferecer assistência técnica no campo. E, também tem a problemática com relação à qualidade da genética dos animais, seja para produção de carne, já que lá o foco maior é para parte de ovinos (que é o forte lá do Ceará) como, também de comercialização. Então, lá é uma situação que realmente merece um esforço, um agregado maior, tanto da parte de produtores (seja de associações de produtores ou por parte de instituições de pesquisa, ensino e extensão) como também da parte do próprio Governo. Existem tentativas para reverter essa situação, mas realmente o esforço precisa ser um pouco maior.

ASCOM/EMATER- Pelo que você tem percebido, aqui no Piauí é a mesma situação do Ceará, no sentido da organização?

JOSÉ MAURÍCIO - Conversando com os colegas do Emater, realmente a situação não difere muito, nesse aspecto da organização da cadeia e do mercado. Ele não difere muito da situação do Ceará e, ao que parece, refleti bastante os demais estados. Apesar do potencial que nós temos, e é um potencial que é reconhecido (o da criação de caprinos e ovinos) ainda falta uma estruturação melhor por parte desse tipo de produção.

ASCOM/EMATER- Qual a avaliação que senhor faz do agricultor familiar, no sentido da cadeia produtiva da caprinovinocultura? O que senhor acha que está faltando para que ele entre no mercado?

JOSÉ MAURÍCIO - O que está faltando realmente é...(pausa)...Primeiro, parte da conscientização do próprio produtor. Infelizmente ainda, tanto o pequeno, médio e, até mesmo, os grandes produtores, são apegados a técnicas antigas e que não tem nenhuma fundamentação científica, tecnológica. Então, isso precisa mudar. É preciso estar focado, encarar sua produção como negócio, independente do seu tamanho. Encarar como negócio e poder absorver as tecnologias que possam vir a se avaliar, aumentar sua produção e a própria qualidade de vida, que é o ponto central.  Então, a grande questão é ter a consciência de que ele tem que encarar sua produção como negócio. Como uma questão de subsistência, mas também agregar novas técnicas e tecnologias. Novas assim...(pausa) que já existem há décadas. Mas que, com certeza, vão auxiliar na qualidade de vida deles.

ASCOM/EMATER- O senhor trabalha tanto o manejo quanto a nutrição e a sanidade. De maneira geral, o agricultor rural tem dificuldade nas três áreas ou tem uma área que ele tem mais dificuldade?

JOSÉ MAURÍCIO - Na verdade, e infelizmente, ele tem dificuldade nas três áreas. É uma coisa que demonstro aqui no curso. Ou seja, dentro de uma propriedade, você tem, basicamente, três meios de foco de manejo, que são a  nutrição (que é de alimentação); a sanidade (que é o controle de doenças, de prevenção) e a reprodução, (o manejo reprodutivo). Esses três estão interligados. Eu não posso falar de sanidade se eu não tiver garantido a nutrição. Não posso falar de nutrição se eu não tiver garantido a sanidade. Não posso falar de reprodução se eu não tiver garantido a nutrição e a sanidade ao mesmo tempo. Então, muitas vezes, alguns pequenos, médios e grandes produtores querem dar um incremento em cima da taxa reprodutiva, com melhoria genética, aquisição de reprodutores, inclusive até, de alto custo, de alto preço. Mas, eles não têm condições, seja no manejo nutricional, garantia alimentar para aqueles animais e no manejo sanitário, que é justamente o controle e prevenção de doenças dentro do rebanho. Sem essas três formas de manejo, atuando de forma integrada, torna-se difícil a realização de um manejo, uma produção, que seja sustentável.

ASCOM/EMATER- O senhor apresenta algumas tecnologias novas nesse curso, principalmente essa da conservação de sêmem na água de coco. Existem outras tecnologias que vão ser apresentadas ou essa é o destaque?

JOSÉ MAURÍCIO - Essa daí é o destaque que fazemos. Vamos apresentar inicialmente, toda parte do manejo reprodutivo. Como poderia ser o uso das tecnologias reprodutivas? Como poderia atender ao produtor? De que maneira a inseminação artificial (após termos resolvido toda essa problemática da nutrição e da sanidade) pode melhorar a qualidade dos rebanhos, particularmente na agricultura familiar? E, nesse caso, com relação à inseminação artificial, poder falar a respeito do uso, que é a temática do nosso laboratório, que é de diluidores para sêmem, que é a concentração de sêmem. No caso, nós utilizamos a água de côco, que é um recurso abundante no Nordeste (o que barateia os custos). E é, também um recurso regional que pode agregar valor aos nossos produtos à própria cadeia produtiva, agregando, nesse caso, a parte da biotecnologia reprodutiva. Parece uma coisa de brincadeira mas, na verdade, nada mais é do que você pegar água de côco e retirar o conteúdo de água e ficar só os nutrientes que interessam para o nosso trabalho de conservação de sêmem. E como se nós pegássemos esses nutrientes e conseguíssemos estocá-los. Nós podemos levar inclusive para regiões que não dispõem desse produto. Eu até brinco: __Olha, você não toma leite em pó? Então o leite que é líquido você tira o conteúdo de água e fica só os nutrientes do leite. E assim é também algumas tecnologias, como a água de côco em pó.

ASCOM/EMATER- Essa possibilidade de utilizar algumas tecnologias, com base em produtos regionais, não é mais novidade para o Ceará. Você tem alguma tecnologia no sentido utilização de matérias regionais na construção de apriscos, isso é possível também?

JOSÉ MAURÍCIO - Isso também é possível, só que, infelizmente, no caso, por exemplo, de instalações, nós vamos enfatizar muito o uso de material regional, da própria região do agricultor. Mas, infelizmente, por conta dessa cultura que você tem, que é preciso mudar, às vezes faz uso ate de recursos inapropriados para construção de instalações e termina onerando e inviabilizando, uma vez que, essas instalações, terminam não sendo apropriadas para o conforto e bem-estar dos animais e, portanto, diminuindo a produção.

ASCOM/EMATER- Em relação ao técnico, à formação desse técnico, você tem tido alguma dificuldade ou barreiras que estejam dificultando ou que facilite esse contato com a agricultura familiar?

JOSÉ MAURÍCIO - Eu posso falar da realidade que a gente tem no Ceará. Conversando com amigos, técnicos daqui, a realidade não é muito diferente. A primeira realidade é justamente essa da dificuldade, questão dos recursos e também de pessoal para poder atender os produtores. Para você ter uma idéia, no Ceará mesmo, em algumas regiões, o técnico trabalha diariamente, vai a campo todos os dias, mas, no entanto, cada propriedade só recebe a visita desse técnico a cada dois meses, quando muito. Exatamente porque há uma carência de técnicos e termina havendo uma sobrecarga do técnico. Termina tendo uma carência das informações que aquele, técnico, poderia estar repassando, por conta de ser uma quantidade pequena de técnicos em relação às propriedades que ele tem que atender. Então, isso aí é o primeiro ponto que nós percebemos. O segundo, é a questão também do produtor estar aberto às informações, que são passadas pelos técnicos. Muitas vezes, o técnico chega, dá a orientação adequada, tenta adaptar as orientações à realidade daquele produtor, mas ainda há muitos produtores que têm aquela resistência na adoção dessa técnica. Então, esse daí é um trabalho que é insistência. Tem que existir. Inclusive, já ouvi um técnico dizer: __Olha, talvez o pai não escute, mas com certeza o filho vai ouvir, e se o filho não ouvir o neto... Enfim, algum dia alguém vai ouvir. Então, a insistência, a persistência tem que continuar.

28/11/08




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